Este mês aproveitei para assistir espetáculos de impro que trabalham o formato longo. Peças improvisadas com uma hora de duração. Como o improviso de longa duração busca aprofundar a relação entre os personagens em cena, é um trabalho de ator/autor que exige coragem, treino e confiança para dar certo.
Atualmente existem duas peças em cartaz com essa proposta no Brasil.
No Rio de Janeiro o espetáculo "Dois é Bom" com Claudio Amado e Ana Paula Novellino (Teatro do Nada) e em São Paulo o "Caleidoscópio" com o grupo Jogando no Quintal, dirigido pelo talentoso Marcio Ballas.
"Dois é Bom" investe na relação entre os personagens criados durante a peça. Claudio Amado abusa de sua versatilidade, criando caracterizações interessantíssimas, sempre contracenando com Ana Paula, que investe a fundo na relação, criando histórias lúdicas e singelas, alcançando o público com emoções dignas de bons roteiros escritos para esse fim. Como, por exemplo, um avô que vive com sua neta que trafica loló e lhe realiza um "desejo", um motorista de bugre em Natal que leva sua paquera para passear, mas não tem a recíproca desejada de romance. E até mesmo uma alta executiva deprimida e com tendências suicidas, que vai ao terraço do edifício onde trabalha e é convencida a não se matar pelo zelador que lá se encontra e que no final se revela um anjo. As histórias são ancoradas na realidade o que torna mais fácil a identificação com o público.
"Caleidoscópio" tem uma produção primorosa, com uma luz belíssima. Os atores são fantásticos,fico impressionado com a precisão corporal deles. Mas as histórias (todas no dia que eu vi) são calcadas no surrealismo: como o homem que consegue medir superfícies precisamente ao passar a língua sobre elas, um rapaz que quer fazer uma pinta cabeluda em forma de barata nas costas para impressionar a namorada ou um outro da alta sociedade que apresenta uma boneca inflável para sua família em um jantar formal, dizendo ser o amor da sua vida. Essas histórias contadas por esses palhaços magníficos rendem boas gargalhadas o tempo todo e compõem um bom espetáculo. Mas senti a falta de emoções mais profundas que um formato longo é capaz de proporcionar. Na peça que eu assisti apenas a última cena chegou perto de uma emoção diferente. Mas o espetáculo é sempre divertidíssimo e vale a visita ao teatro.
O Impro surpreende pela variedade que é capaz de abranger em seus formatos curto ou longo - a imaginação é o limite! E sempre ha espaço para aqueles que querem se arriscar a pular em um palco vazio para preenchê-lo com as idéias que lhe surgem na cabeça.