quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cavalheirismo e Improvisação




Gostaria de dedicar esta postagem aos meus amigos dos Improsêniors (Riba, Ary Aguiar e Rodrigo Amem). Foram os Campeões do IV Campeonato Carioca de Improvisação, dando um exemplo primoroso do que é ser Cavalheiro!


Parabéns rapaziada.




Cavalheirismo e os Cavaleiros da Improvisação

Por Tom Tollenare


“Cavalheirismo é a crença e a prática dos Nobres Cavaleiros da idade média e também os atuais. Cavalheirismo é um código de éticas utilizadas por nobres donos de terra e /ou Cavaleiros, influenciados pela Cristandade. O Cavalheiro era leal, cortês, protetor, gentil e honrado com todos, incluindo os inimigos. Cavaleiros buscavam reconhecimento e glória, mas não de forma egoísta; reconhecimento e glória para sua dama e seu rei em primeiro lugar”

- Juramento dos Cavaleiros


Nosso vocabulário


Eu acho que qualquer improvisador ou treinador de improviso irá concordar que um bom jogador de teatroesporte / Impro é - entre “outras coisas” – um jogador que é bom pra se ter como companheiro, pois é divertido jogar com ele. Nós todos conhecemos toneladas de exercícios para treinar jogadores nessas “outras coisas”: aceitação, ofertas, avançar histórias, construção de personagens, “tilt” e “status”, mas nós ensinamos os jogadores a serem legais de se jogar? Utilizamos um vocabulário que inclui termos como aceitação, reincorporação, levantar as estacas, “tiltar”, cafetinar, pisar-na jaca, que seja, mas nós temos uma palavra para definir um cara legal para jogar no seu time? Eu acredito que essa palavra possa ser “Cavalheirismo”.


O que é ser um “cara legal para se jogar”?


Nós queremos jogadores que sintam prazer de estar jogando uns com os outros. Pense nos jogadores com quem você gosta de jogar e o que os torna bons companheiros de jogo. Você provavelmente virá com coisas como:


  • Ele faz boas ofertas
  • Ele aceita e constrói sobre minhas ofertas
  • Ele me faz me sentir bem em cena
  • Ele me diverte em cena

Agora pense naqueles jogadores com quem você não gosta de jogar. Porque isso acontece? As possíveis razões podem ser:

  • Ela gosta de aparecer demais.
  • Ele acaba com a história.
  • Ele não está escutando.
  • Ele sempre faz a mesma coisa
  • Ele nunca deixa de lado suas próprias idéias.
  • Ela sempre sobrecarrega a cena.
  • Sua oferta é sempre absurda.

Se você olhar para a lista de maus comportamentos, você verá um tema majoritário emergindo: o egoísmo. Isto é o oposto do Cavalheirismo, de acordo com a definição no início desse artigo. Então, para nos livrarmos do egoísmo, precisamos ensinar Cavalheirismo!


Como ensinar Cavalheirismo?


Temos que ensinar aos nossos companheiros de jogo o que nós não gostamos. Agora, desde que somos todos treinados a aceitar qualquer coisa, esta proposição é maliciosa. Também, dizer que não gostamos de algo que outro jogador faz, não é muito engraçado, ele podem não gostar de nossa opinião, pode magoar pessoas e até mesmo causar um racha no grupo.


Mas por outro lado, será que acreditamos que Felipe Massa não se magoa quando está treinando para uma corrida? Acreditamos que os joelhos do Ronaldinho não doem após um longo dia se preparando para um jogo decisivo? Nós estamos treinando para aprender algo, para nos tornarmos melhores, não para ouvir dos outros o quão bons nós somos. Ninguém aprendeu a andar de bicicleta sem nunca cair.


Vamos ver agora como podemos ensinar isto sem magoar tanto os orgulhos e egos.


Tiroteio


Eu gosto de jogar tiroteio nos treinos. Todos os jogadores em um círculo então eu digo a eles que cada um tem dois revólveres. Quando eu gritar o nome de alguém essa pessoa tem que se abaixar o mais rápido possível enquanto os seus dois vizinhos tentam atirar nela. Se ela for rápida o suficiente, aquele que atirar primeiro mata o outro vizinho. Se ela não for rápida o suficiente, ela morre.

Se você tentar fazer este jogo apenas com essas instruções, você terá um tiro, e depois verá três jogadores em um debate para saber quem atirou primeiro. Talvez após um segundo ou mais, um deles dará o braço a torcer e começará a morrer.


Afinal ninguém gosta de morrer.


Depois eu mudo as regras. Para cada tiro, pelo menos um dos jogadores precisa morrer. Eu digo que eles devem considerar morrer parte da diversão. E por que eles não morreriam – é um jogo? Eu digo que se eles tiverem qualquer dúvida, que eles devem morrer. Isto é Cavalheirismo – oferecer sua vida para seus companheiros jogadores, assim como um Cavaleiro iria, com prazer, morrer por seu Rei. Tente o jogo outra vez e provavelmente verá que as coisas acontecem bem mais rapidamente. Talvez os três envolvidos em um tiroteio irão morrer instantaneamente, e isto irá evocar risos. Certamente, um deles atirou primeiro, mas quem realmente se importa com isso? É um jogo! Para os Cavaleiros medievais, Cavalheirismo era um jogo de vida e morte, para nós é apenas um jogo, então certamente somos capazes de dominar o Cavalheirismo, não?


É nobre morrer por seus parceiros. Realmente dispor da sua vida pode ser até divertido, como um Cavaleiro medieval faria por seu Rei, porém, oferecer sua vida em um jogo deve ser muito mais fácil. Morrer em cena por seu companheiro pode ser tãodivertido quanto sair da cena (ou não entrar nela), ou desistir de suas próprias idéias. Um jogador que percebe isso, torna-se o melhor parceiro para um jogo.


O Fracasso só existe em nossas cabeças


Quando fomos apresentados ao impro nós costumávamos jogar jogos de associações. O treinador dizia que qualquer coisa que você pensar após escutar seu companheiro era OK. Exceto que ele não queria escutar uma palavra que já tenha sido falada antes. Agora como poderia qualquer palavra ser OK? Atitudes como essa instigam a falha em seus jogadores, adicionam stress, e apenas levam a um estado de frustração pessoal (Porcaria estou pensando em banana de novo. Bananas são ruins. Tenho que pensar em outra coisa. Sou tão sem inspiração. Pense. Pense! Deu branco).


Tente isso: sente-se em silêncio, deixe sua mente vagar, mas internamente, para si mesmo, nomeie tudo que passa por sua cabeça. Você provavelmente achará que em alguns momento você acha que não está pensando sobre coisas interessantes, ou que seus pensamentos se resumem a (Por exemplo) ovelhas, nada além de ovelhas, e que isso não é bom o suficiente. Quem está brincando aqui? São somente seus pensamentos e você não está nem dizendo a ninguém o que você está pensando. Muitos de nós se auto-censuram, como se nossas idéias, deixadas vagando por si só, não são suficientemente interessantes.


Dizendo não


Todos nós sabemos que ofertas devem ser aceitas. Mas nos treinos, se tudo for aceito, como nós iremos aprender? Aqui estão 2 exercícios nos quais vamos aprender a dizer não para aprender o que é ser legal para se jogar.


Sim Vamos – ou Não


Todos no palco. Um jogador faz uma sugestão (Ex.) “Estamos em uma praia”. Todos que sentirem que isso pode ser divertido grita “Sim” e o jogo começa em uma praia. Qualquer um que não se sentir feliz sobre esta sugestão, deve deixar o palco. Então outro jogador sugere algo: “vamos procurar uma baleia”. Novamente todos concordam felizes ou saem. Quando o próximo jogador sugere, “Vamos ser atropelados por um ônibus” todos irão provavelmente sair.

Um comentário:

  1. Com diz o Flávio, tratar um colega no palco como um rei, pois ele será sua principal ferramenta de trabalho...

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